Falar de ser caipira é abordar um universo de saberes, e não o domínio
de ignorância ou atraso, como é muito habitual na linguagem do senso comum.
Trata-se de refletir sobre
modalidades de cultura popular (na
qual se situa o caipira) como dimensões de sabedoria socialmente compartilhadas
por diferentes grupos da sociedade.
Nesse sentido, a cultura popular se reveste de potencial democrático
pois homens e mulheres de diversas classes e faixas de idade dividem entre si
aqueles conhecimentos em seu cotidiano, aprendidos no dia a dia, transmitidos e
transformados entre pessoas que,
nessa esfera, são iguais: culinária, cantos, poemas, gestos, narrações... E ser
caipira hoje é também estar num mundo globalizado, informatizado,
dotado de um ritmo muito acelerado de informações em circulação.
Este SARAU agrupa canções e poemas de origem e circulação populares.
Discutiremos a pertinência e a
continuidade (ampliada, transformada e transformadora) dessa cultura
popular no mundo atual: somos caipiras, portadores de uma cultura,
assim como muitos de nossos contemporâneos são judeus, palestinos, ciganos ou
indígenas e outras identidades mais, portadores de tantas culturas. Ser caipira
é cultivar saberes, em diálogo com outros saberes porque as culturas quase
nunca se mantêm num estado de pureza absoluta.
A cultura caipira abrange,
portanto, a produção material da vida (o trabalho, os cuidados com o corpo -
alimentação, higiene, proteção e o rnato -, a moradia) e as diferentes formas
simbólicas de que se revestem todas essas atividades, incluindo a produção e a
fruição do belo – artes. Nesse sentido, há dimensões de uma identidade caipira (sertaneja, matuta,
caiçara, beradeira e similares) de cunho afirmativo, que se manifesta em
poemas, canções e prosas: esses homens e mulheres gostam de ser o que são,
apesar de eventuais dificuldades e sofrimentos por eles enfrentados.
Marcos Silva - Professor titular de História da Universidade de São Paulo, Membro do Grupo Ô de Casa de Cultura Popular e do Cineclube Baixa Augusta.
Adorei assisti-los no Seminário de História Cultural da USP. As canções e os poemas são lindos e a interpretação tocante. Me emocionou sobretudo a interpretação de Eli do poema "Mãe Preta". Dona Zoraide também é maravilhosa, com seu jeito simples e doce de narrar. Estão de parabéns! Que continuem trilhando os caminhos da cultura!.
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