“Há dimensões de uma identidade caipira (sertaneja, matuta, caiçara, beradeira e similares) de cunho afirmativo, que se manifesta em poemas, canções e prosas: esses homens e mulheres gostam de ser o que são, apesar de eventuais dificuldades e sofrimentos por eles enfrentados. Esses homens e mulheres somos nós todos.” (Marcos Silva)
Uma pequena mostra do trabalho que o Grupo Ô de Casa desenvolve, em especial o Sarau Caipira:
Música: "Prelúdio nº 5" de Heitor Villa-Lobos (1887-1959), com Edson Tobinaga ao violão.
Sarau Caipira
Cantores: Marcos Silva e Tania Clemente
Declamadores: Eli Clemente, Rosana Damas, Taís Liger e Zoraide Liger
Violão e Direção Musical: Edson Tobinaga
Direção Geral: Eli Clemente
As imagens foram captadas pela fotógrafa e compositora Daiana Martins, durante a apresentação do grupo no projeto "Domingo na Yayá" do CPC-USP Casa de Dona Yayá, em 27 de novembro de 2011.
Falar de ser caipira é abordar um universo de saberes, e não o domínio
de ignorância ou atraso, como é muito habitual na linguagem do senso comum.
Trata-se de refletir sobre
modalidades de cultura popular (na
qual se situa o caipira) como dimensões de sabedoria socialmente compartilhadas
por diferentes grupos da sociedade.
Nesse sentido, a cultura popular se reveste de potencial democrático
pois homens e mulheres de diversas classes e faixas de idade dividem entre si
aqueles conhecimentos em seu cotidiano, aprendidos no dia a dia, transmitidos e
transformados entrepessoas que,
nessa esfera, são iguais: culinária, cantos, poemas, gestos, narrações... E ser
caipira hoje é também estar num mundo globalizado, informatizado,
dotado de um ritmo muito acelerado de informações em circulação.
Este SARAU agrupa canções e poemas de origem e circulação populares.
Discutiremos a pertinência e a
continuidade (ampliada, transformada e transformadora) dessa cultura
popular no mundo atual: somos caipiras, portadores de uma cultura,
assim como muitos de nossos contemporâneos são judeus, palestinos, ciganos ou
indígenas e outras identidades mais, portadores de tantas culturas. Ser caipira
é cultivar saberes, em diálogo com outros saberes porque as culturas quase
nunca se mantêm num estado de pureza absoluta.
A cultura caipira abrange,
portanto, a produção material da vida (o trabalho, os cuidados com o corpo -
alimentação, higiene, proteção e o rnato -, a moradia) e as diferentes formas
simbólicas de que se revestem todas essas atividades, incluindo a produção e a
fruição do belo – artes. Nesse sentido, há dimensões de uma identidade caipira (sertaneja, matuta,
caiçara, beradeira e similares) de cunho afirmativo, que se manifesta em
poemas, canções e prosas: esses homens e mulheres gostam de ser o que são,
apesar de eventuais dificuldades e sofrimentos por eles enfrentados.
Esses
homens e mulheres somos nós todos.
Marcos Silva - Professor titular de História da Universidade de São Paulo, Membro do Grupo Ô de Casa de Cultura Popular e do Cineclube Baixa Augusta.